Será que existe investidor estrangeiro cobrando juros baixo?

O mito do investidor estrangeiro barato

É sagrado: pelo menos uma vez por semana pinga no meu celular algum empresário querendo captar dinheiro barato com investidores estrangeiros.

Parece, ao mesmo tempo, simples e genial: “é que aqui no Brasil o juro é muito caro, lá fora eles aceitam 5%, 6% ao ano”. Hm, sei. Aham. É, pode ser. A questão é, pra financiar quem?

Existe motivo pro juro no Brasil ser alto. Muitos motivos, aliás. Não é apenas um número inconveniente que foi colocado lá nas alturas por um capricho de meia dúzia de burocratas.

Nosso juro é caro porque nossas instituições são disfuncionais, nosso judiciário é lento, nossa inadimplência é grande, nosso custo de recuperação de crédito é maior ainda e nosso ambiente econômico é instável. Uma canetada de um burocrata de mau humor em Brasília ou uma reversão de entendimento numa côrte podem destruir um setor. Aliás, essas coisas acontecem o tempo todo por aqui.

A não ser que você esteja em negociação com a Madre Teresa de Calcutá, é razoável acreditar que esse investidor vai querer um retorno condizente com o risco que vai correr. Sim, ele aceita 6% ao ano – pra financiar alguém que:

  1. Está no mesmo país que ele;
  2. Quase sempre ele conhece muito bem;
  3. Está num ambiente mais estável;
  4. Sem correr risco cambial.

Pare pra pensar: uma disputa judicial com alguém que firmou um contrato em um foro do interior às vezes já é difícil, imagina em outro país?

Mas vamos lá, digamos que você achou um investidor que aceita correr o risco de investir no Brasil (aliás, tem vários). Vamos supor, por hipótese, que seja um investidor até um pouco irracional, daqueles que, por exemplo, não enxergam todos os fatores de risco daqui. Ele vai exigir qual taxa de retorno?

O que a Selic tem a ver com isso?

A Selic diz mais ou menos o quanto o Governo Brasileiro está pagando pelos seus títulos. Hoje, na casa de 13% ao ano. Por que mesmo alguém lá de fora iria emprestar a você por um custo sequer parecido com esse, se pode correr o risco Brasil e ganhar 13% ao ano sem risco de crédito? É evidente que ele vai cobrar mais do que 13%. E pasme: na maioria das vezes, vai cobrar mais caro do que os próprios investidores domésticos, pois esses conhecem muito melhor o país e conseguem lidar muito bem com os desafios e a burocracia por aqui.

Por fim, sim, existem os investidores de fomento, de bancos de desenvolvimento ou instituições que dedicam parte do seu capital para projetos ESG, por exemplo. Qual o tamanho disso? Um terço do capital disponível mundialmente. Bastante coisa. Quanto disso é direcionado pro Brasil? Cerca de 0,001%, por ano. E sabe pra quem? Preferencialmente big corporates. Ou gente com muita governança e com time muito preparado pra conduzir esse tipo de relação, onde facilmente o investidor demandará vinte ou trinta MIL documentos.

Aliás, falando em governança, que tal auditar seus balanços e começar a captar mais barato aqui no Brasil mesmo?

Autor

Bruno Vieira

Bruno Vieira

Head de DCM (Debt Capital Markets) da Stark, economista pela UFSC, tem mais de 14 anos de experiência no mercado de crédito. Fundou, em 2015, uma boutique de operações estruturadas que posteriormente se fundiu à Stark para formar o primeiro Investment Banking Digital do Brasil.

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