Neutralizamos os juros com a valorização do imóvel da garantia

Investment Banking nunca é só sobre realizar uma operação, e sim sobre criar as condições para que ela aconteça. A trajetória da Água da Serra conosco ilustra isso muito bem.

A empresa dona da icônica Laranjinha Água da Serra, provavelmente a marca de refrigerantes mais lembrada e amada pelos catarinenses, chegou à Stark para financiar sua expansão para outras regiões do país. Fizemos o que fazemos de melhor: abrir o leque infinito de possibilidades do mercado financeiro em busca, não simplesmente de uma operação, mas da melhor de todas.

A alternativa mais óbvia neste caso parecia um Sale and Leaseback, contrato de venda e aluguel dos ativos operacionais da empresa. Porém, já nesse momento, surgiu nosso primeiro obstáculo: o Sr. Eymard Frigotto, competente executivo à frente do negócio, nos propôs o desafio de conseguir uma captação de cerca de 50% do faturamento anual da empresa na época, portanto um valor bastante elevado, sem utilizar suas garantias reais.

No mundo das médias empresas, captar volumes elevados de recursos sem garantias é quase impossível. Mas a qualidade da administração da empresa, que conta com conselho de administração com membros externos, executivos profissionais e balanço auditado por big4, nos incentivou a aceitar o desafio.

Descobrimos então que a melhor opção seria pleitear o direito à emissão de um Certificado de Recebimento do Agronegócio, um CRA. Porém, o CRA é uma operação destinada exclusivamente a financiar diretamente o agronegócio, não diretamente o setor industrial.

Então, a saída veio do “contas a pagar” da empresa: criamos um modelo de captação que utilizaria os contratos com fornecedores de açúcar para o lastro da dívida. Afinal, comprar açúcar é financiar diretamente o produtor de cana, certo?!

Construímos a tese e levamos a mercado. Iniciamos as negociações com uma gestora de Fiagros listados em bolsa, com um time técnico bastante criterioso. Após cerca de dois meses de negociações, finalmente tínhamos nossa primeira proposta de investimentos oficial na mesa.

O desafio foi vencido, operação e garantias definidas, investidor engajado, auditoria caminhando e próximos da conclusão.

Tudo pode acontecer… e acontece! 

Momentos antes do final das diligências, problemas com o fornecedor de açúcar tornaram impossível emitir o CRA. Mais uma vez, a captação corria o risco de não acontecer. Estávamos sem lastro de emissão e sem garantias, estaca zero.

E ainda há quem diga que encontrar o investidor é a parte mais complexa da transação… Mas como resiliência é um dos mantras da Stark, o caminho é arregaçar as mangas e procurar a melhor saída.

Dessa vez, a solução veio da legislação. Lembra que o objetivo principal da empresa era expandir? Essa expansão envolve a construção de uma nova fábrica, um imóvel industrial ligado à cadeia do agronegócio e foi assim que construímos a emissão de um Certificado de Recebíveis Imobiliários através de um Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais, um Fiagro. Um CRI Corporativo comprado por um Fiagro, transação bastante rara do mercado de capitais.

Porém, como nada é fácil em IB, mais uma barreira surgiu: o imóvel da nova fábrica não poderia ser usado como garantia, por ter sido cedido pelo poder público como contrapartida dos enormes investimentos que a Água da Serra se dispôs a fazer na região. Ou seja: teríamos de emitir um CRI Corporativo, adquirido por um Fiagro, para alocação dos recursos em uma unidade nova (greenfield) e, como se fosse pouco, sem poder dispor das garantias da empresa para isso.

Não tinha jeito, a gente não ia perder essa transação. Financiar a empresa que produzia os refrigerantes que os sócios da Stark bebiam no colégio, quando crianças, era questão de honra para nós. Sendo assim, conduzimos um intenso processo de busca e seleção por ativos imobiliários de terceiros para aquisição.

Uma jogada de mestre

A ideia era ousada: adquirir um imóvel ainda não totalmente regularizado para, após sua regularização documental, ele ser avaliado por várias vezes o valor gasto na aquisição. Isso viabilizaria a transação como um todo e, de quebra, permitiria à empresa ganhar com a valorização patrimonial mais do que a transação custaria em termos de juros. Sob essa ótica, a transação sairia a custo zero.

Foram irônicos nove meses até que conseguíssemos dar a luz à nova documentação do imóvel que serviria como garantia. Literalmente um parto! Mas finalmente, no dia 31 de julho de 2023, exatos um ano e meio após o início dos trabalhos, a transação havia sido concluída.

A captação de recursos é um dos grandes desafios das empresas de médio porte, e nossa missão é conduzi-las por um caminho que, até pouco tempo, só era permitido às grandes empresas, e auxiliá-las a alcançarem o tamanho que desejam, afinal é isso que é democratizar o acesso a capital. 

Desejamos muito sucesso à empresa nessa nova fase. Esperamos que, graças a essa expansão, brasileiros de outras regiões possam ter em seus lares a mesma Laranjinha Água da Serra que os catarinenses há muito tempo se orgulham de ter por aqui.

Autor

Bruno Vieira

Bruno Vieira

Head de DCM (Debt Capital Markets) da Stark, economista pela UFSC, tem mais de 14 anos de experiência no mercado de crédito. Fundou, em 2015, uma boutique de operações estruturadas que posteriormente se fundiu à Stark para formar o primeiro Investment Banking Digital do Brasil.

2 comentários em “Neutralizamos os juros com a valorização do imóvel da garantia”

  1. Ótimo texto. Informativo e esclarecedor. Mostra o quanto o apoio de um time especializado é necessário para a superação de desafios que surgem na captação de recursos.

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